Dizem que as coisas pertencem a que as ama. Eu tenho, entre outros tesouros, uma floresta. Começa bem ali, na divisa com meu quintal. Da janela eu posso contemplar o mundo verde a perder -se no horizonte, em tons que mudam conforme a luminosidade incide.
Os sons da mata são diferentes em cada Estação do ano. É primavera. De tardinha, quase noite, no balanço da varanda, eu fico ouvindo a orquestra dos sapos e dos grilos, das cigarras em contraponto.
Uma brisa úmida movimenta de leve as ramagens. Última ave piou buscando abrigo. Charlotte, a coruja que toda noite pousa furtiva no mourão da cerca e fica piscando pra mim, parte silenciosa...
É lua cheia. Depois da chuva, o luar se infiltra por entre nuvens remanescentes e o urutau, ave quase fantasma vivente aqui na floresta, emite seu canto peculiar. Enquanto isso, a natureza dorme em paz, envolta numa cortina de névoa.
Tenho muito, se não tudo e também tenho gratidão.