— Bichin, bichin, bichin…
De todos os cantos, patinhas silenciosas se aproximaram. A gataria encheu a cozinha.
— Miau, miau, miu, mi.— Dengosos, deslizavam e se enroscavam nas panturrilhas inchadas de titia.
— Fui* daí, vocês me derrubam (risos)! — Segurou-se no espaldar da cadeira.
Os pratinhos de comida ficaram limpos num instante.
Em seguida, no quarto, diante da penteadeira ela libertou os cabelos presos num coque. Fios brancos, quase nada, apesar da idade. Penteou-os demoradamente, com prazer. Fez uma comprida trança...
Sem pressa, vestiu-se com a camisola, enquanto o vestido estampado de florezinhas voltava a esperar no cabideiro atrás da porta. Deixou os chinelos sobre o tapete e com cuidado subiu para a cama (ruído de palha do colchão). Recostou-se no travesseiro, tão alvo quanto os lençóis. Puxou as cobertas, noite fria. Apagou o abajur e tomando o rosário, começou a debulhar suas contas. Na primeira Ave-Maria, já dormia.
A janela de tábuas compactava o escuro, mas não completamente, porque, através de uma pequena fresta, o facho de luz vindo de fora espiou curioso o urinol esmaltado de prontidão embaixo da cama. Sob os cobertores, sem nenhuma cerimônia e sem disputa (era o paraíso), almofadas de pelo ronronavam.
Era o paraíso...
*Fui daí: fugi daí, saiam daí.