Zaira Belintani
Há que se trabalhar alma, corpo e mente, respirar fundo, ouvir a voz do coração.
Textos

Na moldura de outro tempo

as casas se aconchegam,

disfarçando a solidão.

Agarram-se par em par,

dividindo por direito

a rua encascalhada,

os gatos sobre os telhados,

as goteiras nos beirais.

Os galhos das goiabeiras

debruçados sobre as cercas

e os velhos cães nas soleiras.

 

Quanto pesa a nostalgia

nas franjas dessas cortinas!

As janelas pequeninas

há um século contemplam

a paisagem defronte.

E, onde a vista não alcança,

a lembrança é mais bonita:

lá no alto, sobre trilhos,

o trem de ferro avança,

um longo apito na curva

e a euforia das crianças

acenando ao maquinista.

 

Passa o tempo, e o casario

segue preso por um fio

de arrefecida memória.

Já não sabe a vizinhança

onde termina uma vida,

onde começa outra história.

As conversas se confundem,

até as paredes falam!

Ouve-se sem cerimônia

a própria voz do outo lado,

dizendo das mesmas dores,

dos dramas, brigas e amores.

 

Foto: (Zaira Belintani) casario centenário existente na cidade onde moro - Itabirito - MG

Zaira Belintani
Enviado por Zaira Belintani em 16/11/2022
Alterado em 06/03/2024
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