Finalmente a eletricidade chegou ao Morro do Querosene. Reunida na sala, a família aplaudiu o momento em que o pai, segurando a lâmpada incandescente presa num fio que pendia do teto, torceu a chave. Imediatamente o recinto ficou iluminado como o dia!
De repente, uma nuvem de mariposas, dezenas delas, irrompeu-se da noite. As menores, cegas de luz, chocaram-se contra os objetos e caíram tontas no assoalho. As maiores voaram rápidas como sombras, sacudindo pó no ar. Pousaram nas paredes, exibindo nas asas abertas desenhos semelhantes a olhos. Ameaçadores. Assustadas, Isaura e Célia se esconderam debaixo da mesa.
O pai apagou a luz. A festa acabou.
– Amanhã, feche a janela antes! – sugeriu a mãe.
Publicado no livro MICROCONTOS, coletânea da Editora persona.