O velar da noite não é pelos que dormem.
Para esses existem os sonhos...
Numa esfera transcendente eles podem voar
conforme bem lhes apetece.
Para quem adormece, a noite vai repousar.
O velar da noite é pelos seres que passam em claro,
olhando o tempo se esvair.
Das mentes aceleradas o dia não quer sair.
Martela o cansaço, discutem as ideias
conturbadas pelo estorvo lá de fora:
a poluição sonora, o trânsito remanescente,
os camelôs nas esquinas,
as conversas, as risadas dos bêbados na calçada.
O calor sufoca, o cansaço aflora.
No pulsar das veias latejam as horas.
No interior do quarto, as sombras vigiam...
Paira, por alguns instantes, uma aura de silêncio
(as ideias se calaram?). Pesados, os olhos se rendem
e os seres insones finalmente adormecem.
–A noite vai descansar.
Mas, mal a noite desmaia no colo da madrugada,
já começa o outro dia, já renasce a alvorada.
Imagem - créditos - Zaira Belintani